terça-feira, dezembro 05, 2006

Lobo

LOBOS: ANCESTRAIS DOS CÃES

* Martha Follain *

"... O lobo pode ser encarado como o símbolo dos espíritos dos animais, pois a força da alcatéia é o lobo, e a força do lobo é a alcatéia..." (Rudyard Kipling).

Há, aproximadamente, 60 milhões de anos, um pequeno animal vivia na Ásia e, acredita-se que tenha sido o ancestral de todos os modernos canídeos (cão, chacal, lobos e raposas) - o "miacis". Esse mesmo animal deu origem a todos os chamados "patas de veludo" (animais com "almofadinhas" nas patas): atuais lobos, ursos, gatos, hienas, doninhas, guaxinins, leões marinhos, focas, entre outros.

Há aproximadamente 35 milhões de anos, descendendo do "miacis", surge o "tomarctus", na Ásia. Posteriormente, surge o "cynodictis" , também na Ásia. Há uns 25 milhões de anos surge um grupo de cães semelhantes a ursos, denominados "amphicyonidas" (cães ursos) que eram mais robustos, e posteriormente deram origem à família dos atuais ursos. Existiram também cães semelhantes a gatos, ou seja, arborícolas e os cães parecidos com hienas, comedores basicamente de carniça e ossos - ambas as espécies foram extintas.

Há 10 milhões de anos atrás, surgiram cães com formas atuais, que se disseminaram sob forma de pequenos animais, como chacais, coiotes e raposas.

Há aproximadamente 8 milhões de anos ocorre a extinção dos chamados cães-ursos e, canídeos de grande porte evoluíram como um lobo pequeno que, ainda existe. Este lobo, crescendo constantemente, deu origem aos atuais lobos-cinzentos.

Um outro pequeno representante da família, que também já apresentava tendências de crescimento o "canis armbrusteri" , migrou da América do Norte para a América do Sul, e aí deu origem aos maiores representantes da família dos canídeos que já existiu, o "canis dirus" (lobo terrível) que voltou para a América do Norte há, aproximadamente 100mil anos atrás e lá conviveu com seus primos menores, sendo extinto há 15 mil anos atrás com a chegada do "homo sapiens". Os lobos foram domesticados pelo homem a cerca de 10 mil anos atrás e, com isso, dando origem às diversas espécies de cães existentes hoje.

E, esta ancestralidade, está comprovada: o pesquisador Peter Savolainen, do Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo, Suécia, analisou o DNA de cães do mundo inteiro e lobos da Eurásia e encontrou semelhanças genéticas que atestam que os cães domesticados descendem dos lobos.

O lobo mais comum é o "canis lupus", também conhecido como lobo-cinzento - o lobo é considerado bastante inteligente e, pode correr e viajar por longas distâncias. Tem patas enormes, pernas longas e o peito estreito, permitindo-lhe atravessar áreas cobertas de neve. Seu corpo é recoberto por uma pelagem grossa e macia. Adultos, pesam de 44 a 55 kg e atingem 1,50 m de comprimento. O "canis lupus" é muito resistente: pode viajar 30 km por dia, para ir atrás de comida e cobrir grandes distâncias em pouco tempo. Procuram abater animais mais vulneráveis, como os mais velhos e os filhotes. Seus sentidos são apurados, especialmente o olfato e a audição - seu olfato permite-lhe sentir o cheiro de uma presa a 6 km de distância. Já sua audição alcança um raio de 9 km numa floresta e cerca de 15 km num campo aberto e, têm hábitos noturnos.

O lobo vive em alcatéias, onde seu poderio aumenta. A maioria das alcatéias tem de 4 a 7 membros e, são consideradas os mais complexos grupos, na sua forma de organização social entre animais não-primatas. Compõem-se de um casal líder de reprodutores, chamados de alfa. Há uma hierarquia própria para machos e fêmeas. Atacam em grupo para caçar e, depois de escolher a vítima, perseguem-na e atacam a presa no nariz ou na parte traseira. Derrubado, o animal atacado morre porque entra em choque ou pela perda excessiva de sangue.

Será que, isto também pode acontecer ao homem? Os lobos são capazes de matar um ser humano? Pesquisadores (L. David Mech - biólogo americano) afirmam que, não há risco para o homem pois, ataques de lobos são extremamente raros. Então, de onde vem esse pavor que os lobos provocam nos seres humanos?

Uma das primeiras referências ao lobo, está no épico sumério "Gilgamesh", a cerca de 2300 anos da era cristã. Mais adiante na história, Homero (na Ilíada) e Aristóteles fazem menção ao animal. Plutarco, já no tempo de Cristo, por volta de 70 d.C., narra a lenda de Rômulo e Remo, os gêmeos fundadores de Roma, criados por uma loba.

É na Idade Média, porém, que o homem associa o lobo a um simbolismo maléfico. Acreditava-se que os bruxos da Idade Média, assumiam a pele do animal para freqüentar sabás. Daí chega-se à licantropia, a terrível metamorfose do homem em lobo, e ao lobisomem, entidade na qual a Europa antiga acreditava piamente, até pelo menos a época do rei Luís XIV.

Na Idade Moderna, homens e lobos passaram a competir por gado e, outras criações. Fazendeiros e criadores lançaram-se contra eles, matando-os com rifles e armadilhas, numa cruzada sangrenta. O ritmo desta matança só começou a diminuir a partir de 1940, com o nascimento dos movimentos de proteção animal.

Lendas que associam o lobo a rituais e entidades malignas, são antiqüíssimas - surgiram antes da era cristã, ganharam força na Idade Média e, até hoje permanecem na mente humana. O lobo é um dos animais mais injustamente perseguido no globo inteiro, acusado de atacar rebanhos e ter parte com forças demoníacas. Como conseqüência, este magnífico animal, que já foi o mais bem distribuído entre os mamíferos terrestres, foi dizimado e já desapareceu de inúmeras regiões: no século XVIII desapareceu da Grã-Bretanha e Irlanda; nos séculos seguintes foi exterminado da Europa Central e do Norte. Nos EUA, já foi aniquilado em 95%.

Hoje conta com uma população de cerca de 150 mil indivíduos em 37 países e, vive em regiões da Ásia, Europa, Estados Unidos e Canadá. Sua população vem crescendo lentamente, graças a esforços de cientistas da área animal e movimentos de proteção que, começaram a produzir trabalhos significativos e campanhas educativas sobre o lobo, fazendo com que o ser humano possa compreender e respeitar esta materialização da vida selvagem.